sábado, 5 de dezembro de 2015

PASSO DOBLE

A alguns dias postei algo fazendo citação a Carlos Drummond de Andrade. Alias, falando da dificuldade de se escrever. Disse que as palavras são muitas... etc referindo-me ao poema, ou poesia (não sei que nome se dá a essa maravilha, so sei que gosto) Lutar com palavras é a luta mais vã.
Não fiz a citação na hora pra não fugir do contexto, depois me esqueci. Consertado o erro.
Hoje cedo estava pensando nessa falha e pensei "Não mereço nem engraxar os sapatos do Carlos Drummond de Andrade.." Peraí. Mereço sim. Não conheci pessoalmente esse gênio mas seria legal esse carinho.
Não lavo carro, não lavo tênis, (quando ficam muito sujos passo um pano ou jogo fora, so uso marcas de 50 paus), tomo banho porque é uma obrigação social, mas engraxar sapatos acho legal...
Quando era casado minha esposa lavava meus tênis, era ela quem comprava, sempre bons, e me mantinha na linha, sempre asseado, meu carro so lavo quando vou levar alguém de carona, ou minha Mãe, ou alguém do sexo feminino. As meninas dão muita importância pra essas coisas....
As sandálias e sapatos da minha ex eu engraxava. Com todo prazer. Não sou podólatra nem nada parecido, meus fetiches são bem mais comuns. Acho que esse singelo prazer se deve ao fato de eu sempre fazer isso, na infância, pro meu Pai.
Quando eu era criança, tinha um tênis chamado Kichute. Quem tem mais de trinta e cinco anos sabe.
Esse tênis TINHA que ser lavado. Era super resistente, feito de lona e borracha. Preto, sempre preto. Dava um chulé.... Misericórdia! Ou voce lavava ou lavava.
Como era de lona, durava muito e tinha que ser lavado com o tempo desbotava. Ai eu engraxava.
Quando lavava o meu kichute, lavava os tênis dos meus irmão também, sem o menor problema.
Todos em casa sempre trabalhavam e estudavam desde os catorze anos Graças a Deus. Graças a meus pais também que sempre se desdobraram para que pudéssemos estudar. O resultado ta ai...
Já vi em várias famílias os pais dando dinheiro para os filhos fazerem alguma tarefa, principalmente os serviços mais chatos. sou contra. Sei lá.Me soa meio como suborno ou prostituição. Prefiro quando feito por amor, ou até mesmo sob ameaça de porrada. Até por coação acho mais correto do que por suborno.
Voltando aos tênis.
Depois que secava, eu engraxava e dava brilho no meu kichute, mas tinha também os sapatos do meu Pai. Invariavelmente um Passo Doble... como era legal!
Limpava com um pano úmido, esperava secar, passava graxa, nem lembro a marca, punha pra secar ao sol e depois dava brilho...
Dar brilho nos sapatos do meu Pai era legal. Minhas mãos, então pequenas, cabiam inteiras, dentro de cada pé, e eu passava a escova com todo vigor e velocidade que podia. Até brilhar.
Quando começavam a brilhar era praxe darmos cuspidinhas nos sapatos enquanto passávamos a escova. Ficava lindo.
Minhas mãos ja não cabem mais nos sapatos que ele usava(número 41), ja não tenho mais aquela velha escova de crina de cavalo, ja não existe mais a fabrica da graxa que eu usava só o que existe ainda é a vontade e o prazer de engraxar os velhos sapatos....
Dedicado a JOÃO PEREIRA DA COSTA. O culpado por Valter De Almeida CostaSolange CostaRosangela Almeida CostaMarcio CostaAmanda Costa e eu estarmos aqui.

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