sábado, 5 de dezembro de 2015

UMA GALINHA

Vi em algum lugar que hoje é dia do primo.
Lembrei desse texto e pensei em colocar de novo na rede.
Quando escrevi, quis dedicar a minha Mãe minhas irmãs e outras mulheres maravilhosas que conheço, mas não deu certo. Fica agora dedicado a ELAS
Mas quem são ELAS?
ELAS sabem que são. Beijo a todos

Entre nós, nordestinos e descendentes, como é meu caso, os graus de parentesco são diferenciados.
Primos. Primos são, os filhos dos meus tios e das minhas tias, certo? Nem sempre.
Eu tenho um primo. Filho do irmão do meu pai. Esse meu primo, tem um primo, filho da irmã da mãe dele. Então, ja virou primo. Só por ser primo do meu primo.
Marcamos uma balada, eu esse primo do meu primo e um amigo dele. Se a gente se der der bem, o cara, amigo do primo do meu primo ja me apresenta como primo dele. É uma festa. Adoro isso!
Uma prima minha, nos anos dois mil e pouco, comprou um terreno na Vila das Roseiras e construiu uma casinha. Vila das Roseiras é extremo leste de São Paulo, perto da divisa com Ferraz de Vasconcelos.
O filho da Mãe que vendeu o terreno parece que não poderia ter vendido, e na hora de legalizar foi aquele imbróglio. Como a pobre tinha gasto tudo o que tinha pra comprar e construir, foi morar do jeito que estava. Com luz e água na gambiarra.Comprou, pagou e vivia como invasor. Coisas de Brasil.... Hoje ta tudo resolvido. Tá até bonito o lugar, mas na época....
Como sou o primo eletricista, fui lá fazer a instalação elétrica da moça. Domingão de folga, lá vou eu.
Um frio, uma garoa de dias, aquela rua que dá pra fazer um campeonato de carrinho de rolimã. descidona de mais de quinhentos metros.
Cheguei lá pelas sete e meia. Minha prima já estava esperando, o marido dela, que virou primo, trabalhando. Comecei a fazer o serviço. Puxa fio daqui, coloca tomada lá, instala chuveiro etc... Acabei as três da tarde. Isso porque um primo, que morava na rua de traz, veio com a esposa, também prima, ajudar.
Almoçamos todos, eles ficaram, eu fui embora.
Lembra aquela descidona?Agora era uma subidona...
quando eu era adolescente, era considerado um cara alto. tenho 1.81m. hoje no máximo, estatura média. De vez em quando trombo com uns moleque de 2.00m, 2.10m. Dá até medo.Penso. Esse cara tem que ser amigo, pois pra brigar não dá, pra correr também não. Fica difícil... Viva a Evolução!
Voltando à subidona. To lá, cansadíssimo, subindo a rua, sensação de dever cumprido, meio emocionado de ver aquela gente boa realizando um sonho e comovido com sua hospitalidade, de repente, olho pra baixo e vejo uma galinha, no meio da rua, com uma ninhada de pintinhos. Só eu e eles naquela garôa.Ela não sabia que eu era, so sabia que tinha que proteger sua prole. Um serzinho ve um outro com quarenta vezes o seu peso, seis vezes sua altura, mas se imagina que pode.ameaçar seus filhinhos, vira uma fera.
Com toda sua impotência, esquece o que significa medo, se arma com o que tem ( um bico e oito unhas) e enfrenta um gigante!
Como todo que me conhecem me chama de Ogro, Carcamano, Estúpido, Insensível, fiz o que qualquer cara com o meu perfil faria, reconheci a grandeza do gesto. Instintivo mas belo, contornei a galinha com sua prole e subi a rua. Chorando como uma menininha.....

PASSO DOBLE

A alguns dias postei algo fazendo citação a Carlos Drummond de Andrade. Alias, falando da dificuldade de se escrever. Disse que as palavras são muitas... etc referindo-me ao poema, ou poesia (não sei que nome se dá a essa maravilha, so sei que gosto) Lutar com palavras é a luta mais vã.
Não fiz a citação na hora pra não fugir do contexto, depois me esqueci. Consertado o erro.
Hoje cedo estava pensando nessa falha e pensei "Não mereço nem engraxar os sapatos do Carlos Drummond de Andrade.." Peraí. Mereço sim. Não conheci pessoalmente esse gênio mas seria legal esse carinho.
Não lavo carro, não lavo tênis, (quando ficam muito sujos passo um pano ou jogo fora, so uso marcas de 50 paus), tomo banho porque é uma obrigação social, mas engraxar sapatos acho legal...
Quando era casado minha esposa lavava meus tênis, era ela quem comprava, sempre bons, e me mantinha na linha, sempre asseado, meu carro so lavo quando vou levar alguém de carona, ou minha Mãe, ou alguém do sexo feminino. As meninas dão muita importância pra essas coisas....
As sandálias e sapatos da minha ex eu engraxava. Com todo prazer. Não sou podólatra nem nada parecido, meus fetiches são bem mais comuns. Acho que esse singelo prazer se deve ao fato de eu sempre fazer isso, na infância, pro meu Pai.
Quando eu era criança, tinha um tênis chamado Kichute. Quem tem mais de trinta e cinco anos sabe.
Esse tênis TINHA que ser lavado. Era super resistente, feito de lona e borracha. Preto, sempre preto. Dava um chulé.... Misericórdia! Ou voce lavava ou lavava.
Como era de lona, durava muito e tinha que ser lavado com o tempo desbotava. Ai eu engraxava.
Quando lavava o meu kichute, lavava os tênis dos meus irmão também, sem o menor problema.
Todos em casa sempre trabalhavam e estudavam desde os catorze anos Graças a Deus. Graças a meus pais também que sempre se desdobraram para que pudéssemos estudar. O resultado ta ai...
Já vi em várias famílias os pais dando dinheiro para os filhos fazerem alguma tarefa, principalmente os serviços mais chatos. sou contra. Sei lá.Me soa meio como suborno ou prostituição. Prefiro quando feito por amor, ou até mesmo sob ameaça de porrada. Até por coação acho mais correto do que por suborno.
Voltando aos tênis.
Depois que secava, eu engraxava e dava brilho no meu kichute, mas tinha também os sapatos do meu Pai. Invariavelmente um Passo Doble... como era legal!
Limpava com um pano úmido, esperava secar, passava graxa, nem lembro a marca, punha pra secar ao sol e depois dava brilho...
Dar brilho nos sapatos do meu Pai era legal. Minhas mãos, então pequenas, cabiam inteiras, dentro de cada pé, e eu passava a escova com todo vigor e velocidade que podia. Até brilhar.
Quando começavam a brilhar era praxe darmos cuspidinhas nos sapatos enquanto passávamos a escova. Ficava lindo.
Minhas mãos ja não cabem mais nos sapatos que ele usava(número 41), ja não tenho mais aquela velha escova de crina de cavalo, ja não existe mais a fabrica da graxa que eu usava só o que existe ainda é a vontade e o prazer de engraxar os velhos sapatos....
Dedicado a JOÃO PEREIRA DA COSTA. O culpado por Valter De Almeida CostaSolange CostaRosangela Almeida CostaMarcio CostaAmanda Costa e eu estarmos aqui.